Você já viu alguém agir como o macaco? Você já agiu como ele? Qual foi o resultado? Quais são as algumas das formas de “perder algumas quinas” em outra cultura?
(Sua resposta deve conter pelo menos 50 palavras)
Sim, já vi pessoas agindo como o macaco, ou seja, com coragem e boas intenções, mas também com o pensamento de que o que é bom para si, é certamente bom para o outro. Já agi algumas vezes como o macaco sim e os resultados foram falhas na comunicação e alguns constrangimentos. Recentemente aconteceu uma situação curiosa na clínica de nutrição na qual trabalho em Burkina Faso, oeste da África: para facilitar a verificação do comprimento das crianças, fixei a fita métrica numa madeira (tecnicamente chamamos esse instrumento de estadiômetro e ele é usado em qualquer clínica de nutrição no Brasil). Estava ótimo para mim! Medidas mais exatas, método de trabalho mais eficaz! Porém, percebi um certo constrangimento das mulheres que levavam seus bebês nas consultas... e depois descobri o porquê: quando alguém morre nessa etnia, um pedaço de madeira é utilizado para medir o corpo e permitir que o buraco para o enterro seja cavado na medida certa. Logo, ao verem seus bebês sendo medidos com uma madeira, a impressão que as mulheres tinham remetia à morte!! Ao saber disso, deixei a madeira de lado, claro e voltamos à fita métrica simples.
Creio que sempre corremos o risco de "perder as quinas" quando não perguntamos, não observamos e não escutamos as pessoas da cultura na qual estamos inseridos. Sempre é necessário analisar se o que é bom e correto para mim é também igualmente bom e correto para o outro! E sempre devemos estar dispostos a "abrir mão" e corrigir nosso erros.
Esse exemplo sobre Burkina Faso me lembrou de certas situações pelas quais passei na Rússia.
Os russos têm uma cultura muito peculiar, que é ao mesmo tempo um misto das culturas européia e asiática e ao mesmo tempo diferente das duas. Uma característica do povo russo é que eles são muito supersticiosos, e levam a sério suas crendices, que são muitas. Por exemplo, eles costumam transportar mortos sempre com as pernas para frente. Se alguém vivo é transportado assim, eles consideravam isso um agouro de morte. Era possível sentir o desconforto do paciente, seus parentes ou colegas de leito quando tentávamos movê-los na maca dessa forma (mesmo em cadeira de rodas, tinhamos que puxar o paciente de costas pelo corredor). Ainda bem que me explicaram isso a tempo e pude evitar essa gafe.
Claro, por um lado, eu não queria encorajar essa convicção deles sobre algo que eu sabia ser infundado e supérfluo, mas eu perderia qualquer influência como médico ou mesmo força de testemunho ao não respeitar esse costume local.
Quanto a perder as quinas, isso é algo positivo. Duane Elmer quis dizer isso no sentido de se adaptar. No contexto do cabeça quadrada que adentra a cultura redonda, a cada quina ou ângulo que ele perde, ele se torna mais parecido com a cultura que o recebeu.
Ao não perguntar e não escutar continuamos sendo quadrados na cultura redonda.
Ah ok! Não tinha realmente entendido o sentido de "perder as quinas". Pensei que seria uma expressão equivalente a "perder as estribeiras".
Mas agora que li seu comentário, faz todo sentido: perder as quinas = ir deixando de ser quadrado na cultura redonda!
Obrigada!
Eu já vi sim, pessoas agindo como o macaco, muitas vezes por não levar em conta o que a outra pessoa esta falando. Uma vez o meu padrasto foi visitar o irmão e sua esposa, almoçar com eles. Sua cunhada preparou para o almoço quiabo. Meu padrasto não come quiabo, mas tudo bem tinha outras comidas. Porem sua cunhada queria que ele comesse quiabo de qualquer maneira e encheu o seu prato de com quiabo, para se livrar e parar de comer ele fingiu que estava passando mal.
É claro que esta historia acabou virando uma piada na nossa casa.
Eu também já agi como o macaco com minha filha, fomos almoçar na casa de uns amigos, e minha filha que comia bem comeu só um pouquinho o que não era normal.
Pensamos que ela estava com vergonha e ficamos insistindo, até que ela me falou no ouvido a senhora se esqueceu que eu já almocei em casa?
Isto me serviu de alerta para não ficar insistindo quando alguém me diz muito obrigada, mas eu não quero. Perdemos algumas quinas por não prestarmos atenção, por não ouivirmos, por acharmos que o que é bom para nos é bom para o outro.
Não são poucos os problemas que podemos encontrar quando se trata de comidas que não comemos. Foi interessante você ter mencionado isso, porque em contraponto ao comentário da Juliana, você menciona uma diferença cultural entre pessoas de um mesmo país, e mais, de uma mesma família. Gostar ou não de algum prato (quando não se trata de intolerância ou alergia) é de certa forma algo cultural.
É muito importante que levemos em consideração os gostos, costumes e mesmo a falta de fome do próximo para que possamos ser bons anfitriões. Se não estamos prontos para ouvir e compreender, não podemos servir.
Só relembrando, que "perder quinas" nos termos de Duane Elmer, significa adaptar-se. Em seu exemplo, o homem de cabeça quadrada ao entrar na cultura redonda pode ou manter suas quinas e ser tido por arrogante, não se adaptando no final, ou pode optar por perde-las, se tornando mais parecido com a cultura que o recebe.
Eu não me lembro, mas devo ter feito.Mas eu me lembro que eu queria ser missionaria.Então veio um missionario falar sobre missções,ele falou sobre da Africa e mostrou um filme que mostrava que ,se pessoa não comece da mesma comida que eles era uma ofensa mortal,ele mostrou as lagartas que tinham que comer .O missionario comia pedindo a Deus ele sentisse o gosto de um bife.Ali acabou a minha vontade de ser missionaria ,isso foi um choque cultural.
Não estou me recordando de ter agido como o macaco, mas com certeza já agi muitas vezes. Lembro-me de ter visto alguns homes agindo como o macaco, e o resultado não foi muito bom. Um dia eu e minha mãe voltando da feira vimos um assidente, um carro tombou bem na esquina de uma rua, alguns homens foram socorrer o motorista, retiraram ele do carro e depois resolveram virar o carro. Nâo repararam que o carro estava no topo de uma forte descida com curva, o carro desceu a rua em grande velocidade caiu no quintal de uma casa. Resultado, o carro que tinha amassado um pouco a lataria agora teve perca total.
Trazendo para o plano interpessoal, isso é uma boa analogia de como muita vezes ao tentar ajudar, podemos piorar a situação.
É muito importante analisar tudo antes de agir, mesmo que por boa causa e com boa intenção.
Recebo em minha Clínica Cultural pessoas de diversas culturas, comunidades e religiões para palestras e fóruns, bem como acadêmicos de diversas áreas da Ciência. Os temas são estudados mensalmente. Numa ocasião, naquele mês, o tema em pauta era: “O Islã e os ataques terroristas pelo mundo”. Foi quando convidei para palestrar um sheik árabe de uma mesquita das imediações.
Sempre sirvo um lanche após nossas reuniões e, nesse dia, pensei num cardápio que pudesse agradar o sheik: esfihas e kibes frescos e quentinhos, comida árabe! Haveria coisa melhor? No entanto, o sheik nada comeu e percebemos nele um constrangimento muito grande, acompanhado de desculpas estranhas.
Com o aprofundamento do estudo da cultura islâmica foi que pude enxergar a gafe que havia cometido: os muçulmanos não comem carne da qual não sabem a procedência, pois o abate de aves, bovinos, caprinos, deve seguir criteriosamente o ritual islâmico contido no Alcorão, onde uma das primeiras regras, entre várias e minuciosas outras, é que o abate seja feito por um muçulmano!
Só faltava as esfihas e os kibes serem de carne de porco, já que o consumo da carne desse animal é expressamente proibido entre eles. Mas... eram de carne de vaca. Ufa!
Vale acrescentar aqui a distinta postura do sheik. Ele pegou uma esfiha, embrulhou-a em guardanapo de papel e justificou que a comeria mais tarde. Uma atitude clara de que não queria me decepcionar em público já que, enquanto o servia, eu falava entusiasticamente da minha preocupação em lhe preparar um lanche da cultura árabe.
Em minha sinceridade, achei que tinha perdido umas quinas para ser simpática ao amável e prestativo skeik mas, na verdade, estava dando uma de “macaco”, ou melhor “de macaca”!
Vendo os comentários das Lucias e da Sandra, é interessante como muitos dos choques culturais enfrentados pelos alunos estão relacionados com comidas.
Isso nos mostra como mesmo o ato de alimentar-se possui uma função social muito profunda, que não percebemos imediatamente.
Sim. Sim. Causou uma discussão, o que realmente foi dito no vídeo que causaria. Agir como a cultura a que esta se adaptando em alguma reação, passar mais tempo com eles, mesmo que não falem a mesma língua, mas mostrando interesse e admiração pela cultura, alem de se vestir como eles, falar como e ainda que permaneça algumas quinas, quando não concordar com algo, mostrar respeito e não negatividade. Passei por essa experiência nesse mês de janeiro, quando estava em Burkina Faso e pude me adaptar com muita alegria a cultura deles, existem coisas que realmente me chocaram, mas eu não poderia fazer nada porque a função do missionário não é desconstruir a cultura de ninguém, e afinal eu estava no território deles. Como aprendi naquele lugar, se vestir como eles, sentar e produzir sabão com as mulheres na aldeia, brincar com as crianças de igual para igual, e assim eles puderam se abrir mais. Chega em um momento que não é só uma estratégia de aproximação, mas empatia com o povo, com a nova cultura, e assim e muito lindo ver a felicidades deles por ter alguém que se importa com eles.
E o choque não foi muito quando tive contato com a nova cultura, mas quando voltei para casa, e olha que não fiquei la por muito tempo.
Mas percebo como no vídeo, que todos os que recebem seus missionários de volta, seus filhos depois de um intercambio, ou até sua esposa ou marido depois de um dia de trabalho em casa, precisamos realmente analisar todos os pontos que nessa primeira aula aprendemos.
Pois é, o choque da reentrada cultural é um problema conhecido quase que apenas por aqueles que passam por isso, e extrememente subestimado.
Temos que pedir sempre a misericórdia de Deus para que possamos lidar com isso e ajudar aos que passam pela mesma situação!
Obrigado pelo comentário.
Olá amigos de turma e tutor,
Acredito já ter agido como macaco diversas vezes, mas me lembro de uma das reuniões com lideres africanos. Nessa reunião eu estava com minha lider e portanto não iria participar ativamente. Sentamos a mesa e todos ficaram quietos, os minutos foram se passando e eu comecei a olhar para os lados sem entender o que estava acontecendo. Foi entao que falei baixinho para minha lider: "Ta acontecendo alguma coisa?" Ela fez um sinal de que eu deveria continuar em silencio, após um tempo o pastor presidente começou a reunião.
Após a reunião minha lider me explicou que naquela cultura todos esperam pelo homem mais velho começar a falar e isso pode demorar um pouco. Em nossa cultura brasileira valorizamos muito o tempo, a ideia de que "tempo é dinheiro" nos faz correr contra ele, já em outras culturas tudo é feito calmamente.
Abraços
Larissa B
Interessante como nos acostumamos com nosso ritmo corrido de tal forma que cremos que ele é universal para todos os povos, quando na verdade não é. Seu testemunho é um bom exemplo disso. Obrigado!